quinta-feira, 15 de julho de 2010

Responsabilidade autoral

Há algum tempo venho pensando em escrever sobre direitos autorais para o marcador de dicas aqui no blogue, mais especificamente sobre as formas disponíveis para se registrar um original, porém, resolvi escrever antes um pouco sobre responsabilidade autoral.

Tenho observado nos últimos anos que são muito poucos aqueles que têm responsabilidade com o trabalho literário com o qual se envolvem, seja o próprio autor, na maioria dos casos, novos autores, seja o editor, ou mesmo uma editora.

O fato é que o compromisso primeiro, ao se lidar com a produção literária, deveria ser o respeito com a língua que servirá como meio para a materialização do livro proposto, livro este que será absorvido, independentemente do objetivo de cada leitor, seja para entretenimento, seja para conhecimento, na forma linguística apresentada.

A demanda por leitura cresce a cada ano, mas, infelizmente, também cresce o descaso com a observância no que toca os cuidados com a língua. Já perdi a conta de quantos livros, abaixo do aceitável, numa análise mais rigorosa, passaram por minhas mãos nos últimos anos.

Não basta ter ideias, criatividade, ou, no caso das editoras, fôlego financeiro para viabilizar publicações e distribuí-las pelo Brasil, é preciso ter mais respeito tanto com a língua que utilizam quanto com seus consumidores, e oferecerem a estes um produto mais honesto.

O mínimo que um leitor deveria esperar, ao comprar um livro, é que ele não esteja repleto de erros que, em muitos casos, em vez de expor corretamente o uso de nossa língua, endossam os equívocos gramaticais, para não ser grosseiro, com seus pomposos selos que há muito são considerados referências editoriais.

Obviamente nenhum livro está isento de conter alguns erros, uma vez que o trabalho de revisão, por mais completo que seja, algumas vezes até com revisão tripla, deixa passar alguma coisa. Contudo, fechar os olhos para isso é no mínimo absurdo. Já vi editoras que sequer se dão o trabalho de uma revisão simples, mandam para o prelo o original do jeito que lhes chega às mãos!

Os autores também têm sua cota de responsabilidade, pois deveriam ser os primeiros a questionar se o próprio material não precisa ser revisado, questionar a si mesmos, sempre, e principalmente questionar a quem se propõe a publicar-lhes o trabalho.

Sinceramente, escrever um livro e publicá-lo de qualquer maneira, sem o cuidado de oferecer aos leitores um produto decente, é, no mínimo, uma atitude irresponsável. Por mais que o trabalho não alcance a qualidade desejada, é preciso investir para que isso seja alcançado ao menos com resultados mais aceitáveis; e estar atento para que os próximos possam ser ainda melhores.

Deve-se sempre exigir a qualidade que uma obra literária merece, para que assim ela possa ser chamada. O leitor precisa se tornar mais exigente, mais crítico; o autor precisa entender que não é uma “entidade” intelectual incapaz de errar; o editor precisa ser mais comprometido com a qualidade do seu trabalho.

Em minha primeira experiência, por exemplo, com o livro Virgo – A era dos homens, fiz questão de ter todo esse cuidado com revisões, e, embora tenha sido revisado oficialmente três vezes (por insatisfação com os resultados a cada vez), e uma vez não oficial por uma amiga da área de Letras, até agora não estou feliz com o resultado, e a segunda edição que já está pronta, será enviada oportunamente para minha revisora atual, Cássia Pires, da Bramasole Editora, que eu tive a felicidade de conhecer ao longo de minha jornada como romancista.

Talvez eu esteja imaginando um mundo utópico para o atual cenário literário no país, e o importante mesmo seja ler cada vez mais, seja o que for e como for; escrever cada vez mais, sem pesquisas e de qualquer maneira; vender cada vez mais o que está “bombando” no momento, sem atrasos com detalhes “burocráticos” de revisão, copidesque e, pasmem, até diagramação decentes! Enfim, fica aí o assunto para cada um questionar a si mesmo e debater sobre o assunto.

Saudações literárias,
Roberto Laaf

Um comentário:

  1. Acredito que a palavra-chave seja mesmo Responsabilidade.
    Penso que o que acontece, talvez, seja apenas um reflexo das (ir)responsabilidades que assolam o país em todas as áreas. Lamentável.

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