sexta-feira, 7 de maio de 2010

Crimes literários

Crimes literários

De dois crimes sou acusado por alguns dos meus leitores: matar bons personagens e escrever romances para mulheres. Bem, quanto ao primeiro crime, sou obrigado a admitir que a morte de personagens em meus romances é algo que está intrinsecamente ligado ao meu desejo de propor, sempre, o maior grau possível de similaridade com o que ocorre na vida real, seja no que diz respeito à imprevisibilidade inerente à própria vida, seja no sentido de estimular fortes emoções em meus leitores. Quanto a escrever exclusivamente para mulheres, garanto que nunca tive essa intenção.

Meu desejo mais sincero, como romancista, sempre foi o de levar aos leitores histórias cativantes que pudessem mexer com suas emoções. E, se de alguma forma é preciso definir para quem escrevo, eu diria que escrevo para pessoas sensíveis, tanto homens quanto mulheres capazes de captar diferentes tons de lilás em uma orquídea parcialmente sombreada, e não apenas dizer que a orquídea é lilás.

Acredito que as preocupações de cada autor sejam distintas, e que cada um tenha suas intenções bem definidas quando escrevem para seus leitores. Por exemplo, posso imaginar James Rollins criando consecutivas passagens com explosões, tiroteios épicos e incríveis escapadas de seus personagens, Stephen King em suas intrigantes criações de consumir o fôlego a cada capítulo lido, ou ainda, Anne Rice construindo seus vampiros com tanta propriedade que parecem mesmo existir; a minha, é expor o comportamento humano diante das variações de sentimentos a que estamos sujeitos.

Mas, voltando ao crime do qual admito ser culpado, gostaria de dizer em minha defesa que ao menos cada um dos personagens criados recebe todo o meu cuidado e carinho durante sua construção, principalmente aqueles que terão uma curta existência nas histórias.

Já vivi situações interessantes por conta da morte de um personagem ou outro, como leitor que teve spoiler em primeira mão e queria até fazer campanha para que certo personagem não morresse no livro seguinte, ou leitor querendo “me matar”, faço votos que no sentido figurado, porque certo personagem morreu na história.

Não há nada mais gratificante em meu trabalho de criar histórias do que perceber as reações do leitor, saber que mexi com seus sentimentos, que os fiz refletir de alguma forma por conta de uma passagem ou outra que teve o peso certo para envolvê-los.

Bem, para finalizar o assunto “morte de personagens”, preciso revelar que também já teve leitor pedindo por isso, inclusive, com bastante desejo: “Por que não mata aquele desgraçado de uma vez?”. E olha que nem estou me referindo a vilões!

Não obstante, esses personagens que se contrapõem àqueles que conquistam a simpatia dos leitores, são os mais difíceis de matar, porque embora causem certo ódio à maioria, acreditem, também são admirados por um grupo considerável.

Saudações literárias!
Roberto Laaf

2 comentários:

  1. "E, se de alguma forma é preciso definir para quem escrevo, eu diria que escrevo para pessoas sensíveis, tanto homens quanto mulheres capazes de captar diferentes tons de lilás em uma orquídea parcialmente sombreada, e não apenas dizer que a orquídea é lilás."

    Que coisa linda!

    E, poxa, cada vez fico mais curiosa para ler algo escrito por você, Laaf.

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  2. O pedacinho da orquídea lilás é tão perfeito quanto um sol de outono.
    Talvez para mim seja mais perfeito pelo fato de teres juntado minha flor e minha cor preferidas.
    Enfim, acho que estás te tornando um mestre dos sentimentos.
    Abraços,
    I.

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